Turismo

Caminho de Santiago: do fim surgem novos começos

09 nov 2020 às 08:45

Hipócrates dizia que caminhar é o melhor remédio. Para Thomas Jefferson, não existe nada melhor quando o objetivo é descansar a mente. Há quem diga o contrá­rio: andar é bom para fazer a mente funcionar. Aristóteles gostava de ensinar filosofia enquanto caminhava. Nietzsche afirmava que todas as grandes ideias são concebidas enquanto se caminha.

A visão destes grandes pensadores reflete uma premissa seguida por muitos homens ao longo da história: caminhar é preciso. E foi após a jornada por uma das principais rotas de peregrinação do mundo que o escritor carioca Ricardo Rangel presenteia o público com O Destino é o Caminho – Uma crônica do Caminho de Santiago, lançamento da Edições de Janeiro.

A partir de fragmentos da história particular do autor, o leitor passa a compreender o que leva milhares de pessoas a se deslocarem, todos os anos, para seguir um percurso de quase 800 quilômetros a pé. Para o autor Ricardo Rangel, a resposta, imprecisa antes da partida, estava na busca pela “desconexão total de tudo e de todos”. 

O Caminho de Santiago de Compostela era uma hipótese distinta. Para começar, era diferente de tudo o que eu já havia feito; uma experi­ência intensa de muitas maneiras, não apenas no sentido físico. Também me atraía o fato de ser um lugar onde não há, em absoluto, decisões para tomar: você acorda de manhã e anda sem nem sequer precisar pensar para onde, pois existem setas amarelas por todo lado apontando a dire­ção a seguir. Basta colocar um pé adiante do outro e deixar (ou não) o pensamento fluir. Além disso, dizia-se que as paisagens são belíssimas. Como se isso tudo fosse pouco, sempre há muita gente fazendo o Ca­minho, de modo que cada um tem a oportunidade de decidir — minuto a minuto — se quer solidão ou socialização. (O Destino é o Caminho, p.19)

Ricardo iniciou o trajeto pelo Caminho Francês, o mais tradicional de muitos que levam a Santiago de Compostela e, por isso mesmo, um paraíso de peregrinos. Para ele - e os companheiros de viagem -, foram 42 dias de caminhada. Em alguns, chegou a percorrer 27 quilômetros; em outros dias, o cansaço e os calos nos pés exigiram uma pausa maior.

Os detalhes dessa experiência tornam de O Destino é o Caminho – Uma crônica do Caminho de Santiago leitura indispensável para quem planeja ou, até então, nunca pensou em se aventurar pelas terras do norte espanhol. O roteiro, a preparação, a indicação de livros, filmes e site sobre o caminho, o que levar ou não na mochila, um índice onomástico, a riqueza cultural em forma de imagem. Tudo cuidadosamente registrado para o bel prazer do leitor viajante.

Se a liberdade é não sentir medo, como sintetizou a icônica Nina Simone, o Caminho de Santiago de Compostela representa a ausência dos temores e, paradoxalmente, a total plenitude gerada pela constatação de que o meio é o próprio fim. Nas palavras de Ricardo Rangel, “o destino é a viagem”.