A Justiça do Ceará determinou a suspensão de um show do cantor Wesley Safadão que seria realizado neste fim de semana em Pindoretama, cidade com pouco mais de 23 mil habitantes localizada no litoral cearense. O evento, parte do "Festival Pindoretama", estava sendo organizado pela prefeitura local e contava com um orçamento de R$ 1,7 milhão, custeado com recursos públicos.
A decisão judicial atendeu a um pedido do Ministério Público do Estado, que considerou o gasto desproporcional frente à realidade socioeconômica do município.
Segundo dados do IBGE, Pindoretama tem apenas 13% da população ocupada, com a maioria trabalhando no setor público. Quase metade dos moradores vive com até meio salário mínimo e apenas 5% das residências têm acesso a saneamento básico completo. Além disso, somente 2% das ruas da cidade são asfaltadas.
O juiz responsável pelo caso afirmou que os recursos seriam mais bem empregados em áreas essenciais, como saúde e educação. A decisão foi comunicada às equipes dos artistas na véspera do evento, pegando de surpresa produtores, músicos e empresários. A suspensão deve agora ser judicializada, e há possibilidade de que os artistas recebam cachês mesmo sem se apresentarem, devido ao cancelamento em cima da hora.
A contratação do show é parte de um padrão recorrente em municípios de pequeno porte, onde gestores públicos priorizam grandes eventos em detrimento de políticas públicas estruturais. O comentarista do Jornal Gente classificou a situação como “o suco do Brasil”, destacando a repetição desse tipo de cenário em níveis municipal, estadual e federal.
Além do caso de Pindoretama, outro episódio envolvendo Wesley Safadão chamou atenção recentemente. Em Aracaju (SE), o cantor foi contratado pela prefeitura para se apresentar em um evento financiado com emendas parlamentares.
O deputado Tiago de Joaldo, do PL, subiu ao palco para afirmar que foi ele quem “trouxe o show com dinheiro de emenda” e prometeu repetir o feito no próximo ano. A fala gerou críticas inclusive dentro do próprio partido, e o episódio também pode acabar judicializado, após reação da prefeita Emília Corrêa e dos organizadores do evento.
Com isso, o caso de Pindoretama deixa de ser uma anedota local e passa a representar um retrato maior do Brasil: más gestões públicas, interferências judiciais recorrentes e um Legislativo muitas vezes omisso — ou cúmplice — em decisões sobre os gastos com recursos públicos.