O dia mundial do veganismo é comemorado neste sábado, 1º de novembro. A data foi estabelecida em 1994 para celebrar o 50º aniversário da fundação da Vegan Society e a criação dos termos "vegano" e "veganismo". E, sobretudo nos últimos anos, o veganismo deixou de ser apenas um nicho de estilo de vida para se consolidar como um dos vetores de transformação mais dinâmicos do agronegócio e da indústria de alimentos e bebidas no Brasil.
Mais do que uma simples tendência, o movimento plant-based representa uma intensa movimentação econômica, com faturamentos robustos e impacto direto nas cadeias produtivas, tanto na produção quanto nas oportunidades de negócios, já que além da alimentação, os itens são demandados pelos setores de cosméticos, farmacêuticos, têxtil e serviços em geral.
Relatórios de institutos como o The Good Food Institute (GFI) e pesquisas de consultorias como a Euromonitor International apontam que o Brasil não é apenas o maior mercado da América Latina, mas um dos maiores e mais promissores do mundo. Veja os motivos:
Crescimento Acelerado: O mercado de alimentos à base de plantas no Brasil tem apresentado um crescimento anual de dois dígitos. Em anos recentes, projeções indicam taxas de crescimento que variam de 15% a 30% ao ano, superando em muito a média da indústria alimentícia tradicional.
Movimentação Financeira: O varejo de alimentos plant-based no Brasil já movimenta bilhões de reais anualmente. O setor atrai investimentos significativos, tanto de startups especializadas quanto de gigantes tradicionais da indústria alimentícia (como JBS, Marfrig e BRF), que criaram suas próprias linhas veganas para não perder essa fatia de mercado.
Fatores de Impulsão: O crescimento é impulsionado por três pilares principais: a busca por uma saúde melhor (impulsionada pelo movimento "flexitariano", pessoas que reduzem o consumo de carne), a preocupação com o meio ambiente e a ética animal.
Agro é a base do veganismo
O Brasil, como uma das maiores potências agrícolas do mundo, com uma safra de grãos em torno de 350 milhões de toneladas, está em uma posição privilegiada para liderar essa revolução. A explosão de produtos veganos nas gôndolas dos supermercados, como hambúrgueres, leites vegetais, queijos, iogurtes, entre outros, depende diretamente de matérias-primas cultivadas em larga escala no país. Veja quais são os itens agrícolas mais demandados pelo segmento do veganismo:
1. Soja
A soja é, indiscutivelmente, a rainha do mercado plant-based brasileiro. Embora grande parte da produção nacional seja destinada à exportação, para a produção de ração animal, uma fração crescente é processada para o consumo humano vegano.
A oleaginosa é a base da Proteína Texturizada de Soja (PTS), o ingrediente fundamental para a maioria dos hambúrgueres, quibes, linguiças e "carnes" moídas vegetais. Também é usada para a produção de tofu e bebidas vegetais (leites de soja).
2. Mandioca
Um dos ingredientes mais versáteis e genuinamente brasileiros, a mandioca é crucial para a textura de muitos produtos veganos, especialmente queijos e pães. O amido de mandioca (polvilho doce e azedo) é o ingrediente-chave para dar elasticidade e a textura de "puxa-puxa" aos queijos vegetais, além de ser a base do popular "pão de queijo" vegano.
3. Castanha de Caju
A castanha de caju é a principal estrela no segmento de laticínios veganos premium. O Nordeste brasileiro é um produtor global relevante, e a indústria vegana soube agregar um valor imenso a esta oleaginosa. É a base preferida para a produção de queijos veganos fermentados e artesanais, iogurtes cremosos e "requeijões". Seu alto teor de gordura boa confere uma cremosidade ímpar.
4. Ervilha e Grão-de-Bico
Essas leguminosas representam a "nova geração" de proteínas vegetais, ganhando espaço em formulações mais sofisticadas que buscam evitar a soja, que é um item alérgeno comum. O grão-de-bico é usado para a produção de farinhas (usadas em "omeletes" veganas) e como base para homus e falafel. A ervilha é cada vez mais usada na forma de proteína isolada para hambúrgueres, seguindo a tendência de marcas globais como a Beyond Meat.
5. Arroz e Aveia
Esses grãos são fundamentais no crescente mercado de bebidas vegetais (leites). O arroz é usado para bebidas vegetais mais neutras e leves. A aveia, cultivada principalmente no Sul do Brasil, ganhou enorme popularidade por criar bebidas (leites) e iogurtes extremamente cremosos, sendo a favorita de muitas cafeterias.
6. Coco
O Brasil possui uma vasta produção de coco, especialmente no Nordeste. A gordura do coco é essencial para a indústria plant-based. O óleo de coco é usado para dar a sensação de gordura e suculência em hambúrgueres vegetais. O leite de coco e o "creme de leite" de coco são bases para iogurtes, sorvetes, moquecas veganas e sobremesas.
O movimento vegano no Brasil não é uma bolha; é um mercado sólido, em franca expansão, que está forçando a indústria a inovar. Para o agronegócio, isso representa uma oportunidade de ouro: a de agregar valor à sua produção.
Ao invés de exportar apenas a commodity (como o grão de soja), o Brasil pode se tornar um líder global no processamento dessas matérias-primas, vendendo ingredientes de alto valor agregado – como a proteína isolada de soja ou de ervilha, ou os queijos fermentados de castanha de caju – para um mercado consumidor global que só cresce