A safra de soja brasileira terá um prejuízo que pode ser superior a 15 milhões de toneladas, apontou um relatório, com dados colhidos em campo, pela AgroConsult. O motivo: o clima, influenciado pelo fenômeno El Niño que atinge todos os estados brasileiros.
A colheita da soja avança e consolida o cenário de quebra da safra de forma irreversível, em razão do El Niño de forte intensidade. Com o clima irregular ao longo do plantio e durante o desenvolvimento das lavouras nas diferentes regiões - com falta de chuvas e altas temperaturas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste e excesso de chuvas no Sul do país - a safra apresenta quebra que já supera 15,3 milhões de toneladas em todos os estados. Diferente da temporada 2015/16, quando o fenômeno El Nino também foi de alta intensidade, nessa temporada os estragos foram maiores, principalmente devido à maior precocidade das lavouras. Uma das consequências foi o replantio recorde de 2,9 milhões de hectares, sem contar as áreas abandonadas para dar lugar ao algodão.
“O replantio acaba gerando prejuízo não apenas à safra de soja, pois incorre em novos custos e parte de um potencial produtivo menor, como também à segunda safra de milho, pois compromete a janela ideal para a semeadura”, explica o coordenador da expedição, André Debastiani.
A Agroconsult, organizadora do Rally da Safra, aponta para uma safra 2023/2024 de 153,8 milhões de toneladas – 3,7% inferior à temporada passada, com uma produtividade média de 56,1 sacas por hectare (60 na safra 2022/23). A área plantada cresceu 2,9% para 45,7 milhões de hectares. Com levantamentos quinzenais de safra, a consultoria começou a revisar seus números em outubro e desde então alterou suas estimativas a cada levantamento, em função da piora do quadro climático.
“Essa safra tinha potencial para ultrapassar 169 milhões de toneladas diante do aumento de área, do bom nível tecnológico utilizado no campo e provável cenário de recuperação do Rio Grande do Sul que, na temporada anterior, deixou de produzir 8 milhões de toneladas”, diz Debastiani.
Neste mês de janeiro, as equipes técnicas do Rally da Safra 2024 iniciam, em campo, a avaliação das condições das áreas plantadas, com patrocínio do Santander, OCP Brasil, BASF, Credenz, Soytech, Biotrop, Serasa Experian e JDT Seguros. As áreas visitadas respondem por 97% da área de produção de soja e 72% da área de milho.
Os trabalhos começaram no último dia 12, com os técnicos percorrendo o Oeste do Mato Grosso e a região da BR 163, em áreas de soja precoce. O baixo volume de chuvas, aliado às altas temperaturas em outubro e dezembro do ano passado, acarretou perdas de estande e abortamento de vagens, afetando seriamente as lavouras mais precoces. O clima favoreceu também a incidência de pragas. O replantio no estado é recorde e ultrapassa 1 milhão de hectares (8,5% da área).
“As lavouras que estão sendo colhidas agora são as piores e as mais afetadas pela seca. As áreas com variedades de ciclo médio e tardio, apesar de também terem sofrido, apresentam melhores condições, pois receberam chuvas após a segunda quinzena de dezembro. O receio agora recai sobre o possível excesso de chuvas durante a colheita nas próximas semanas”, diz. O estado tem uma produtividade média pré-rally, estimada pela Agroconsult, em 52,5 sacas por hectare (contra 63,8 sacas por hectare na safra passada).
O Sudoeste de Goiás traz um cenário muito semelhante ao do estado do Mato Grosso, com atraso significativo na regularização das chuvas e altas temperaturas. O início da colheita na região confirma resultados abaixo da expectativa dos produtores. A estimativa pré-rally é de 56 sacas por hectares (65,5 sacas por hectare na temporada 2022/23).
A Bahia surpreende com um quadro crítico e o maior percentual de replantio: 15% da área – algumas lavouras foram replantadas três vezes. O clima irregular com altas temperaturas em novembro e dezembro prejudicou as lavouras, com as chuvas normalizando apenas em janeiro. No estado, a produtividade média pré-rally é projetada em 58,5 sacas por hectare (67 na temporada passada). No Maranhão, Piauí e Tocantins, o retorno das chuvas em janeiro favoreceu o bom desenvolvimento das lavouras, mas, em função do calendário de plantio mais tardio, ainda necessita de chuvas para garantir produtividade estimada em 54,8 sacas por hectare nos três estados juntos (61,2 na safra anterior).
No Mato Grosso do Sul, agora é a vez da região Norte apresentar quebras, diferente do que aconteceu na safra 2021/22, quando o Sul do estado puxou a produtividade média para baixo. A produtividade estimada é de 59 sacas por hectare (64 na safra passada).
Em Minas Gerais, a queda na produção, por enquanto, é menor devido ao plantio mais tardio. A estimativa pré-rally é de 59 sacas por hectare (65,3 sacas em 2022/23).
Técnicos do Rally avaliam também, neste mês, o Oeste do Paraná. Ao contrário de outros estados, o Paraná registrou o melhor início de safra da história, com chuvas nas regiões Oeste e Norte que permitiram um bom avanço do plantio e desenvolvimento inicial das lavouras. No Sudeste e Sudoeste já há queda de potencial pelo excesso de chuvas, baixa luminosidade e alta presença de doenças. A produtividade pré-rally é estimada em 60 sacas por hectare (66 na safra passada).
No Rio Grande do Sul, o ritmo de semeadura ficou abaixo da média em função do excesso de chuvas e solo encharcado. Algumas regiões semearam com muita umidade no solo, ocasionando irregularidade no estande. Com as chuvas acima da média nos meses de novembro e dezembro, as lavouras se desenvolvem de forma satisfatória até o momento, embora com porte mais baixo e menor enraizamento. Atenção à região Sul do estado que pode passar por um período de veranico nas próximas semanas e merece atenção. A projeção é de 55,5 sacas por hectare (36,9 no ciclo passado).
“O trabalho de campo do Rally, visitando cada uma das regiões de produção de soja do Brasil, torna-se fundamental para mensurar os impactos da irregularidade climática na safra de soja. Isso só é possível por meio da coleta de amostras e medição de população de plantas, número de grãos por planta, peso dos grãos e condições fitossanitárias das lavouras. E esse trabalho segue até o final de março com toda a nossa equipe”, diz o coordenador da expedição.