Cacau, café, azeite, uvas e vinhos. Esses são só alguns exemplos das commodities que já são afetadas pelas mudanças climáticas. O resultado é queda na produção, aumento de custos e queda no consumo, e especialistas já se referem a esses produtos como futuros “artigos de luxo”.
O cacau, matéria prima para o chocolate, bateu recordes em março deste ano, chegando a mais de 11 mil dólares a tonelada pela primeira vez na história. De acordo com o monitoramento de preços de commodities da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, o preço da commodity do cacau teve aumento de 136% entre julho de 2022 e fevereiro de 2024. A explicação? Ondas de calor e chuvas intensas na África Ocidental, que produz três quartos do cacau do mundo.
Em Gana e na Costa do Marfim, que produziram 58% do cacau mundial entre 2022 e 2023, houve, no final de 2023, um surto de vírus que faz com que as vagens de cacau apodreçam e endureçam. A praga também é causada pelo aquecimento global. E a consequência foi vista, por exemplo, na Páscoa deste ano. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os tradicionais ovos de Páscoa ficaram 10,33% mais caros este ano. Os bombons, 11,14%.
Na Espanha, o calor e a chuva já fazem com que produtores mudem o horário da colheita: cada vez mais cedo, para que o calor não estrague os frutos. E um estudo publicado em 2015 diz que as mudanças climáticas podem eliminar, até 2050, metade das terras usadas para o cultivo do café no mundo todo. Outro estudo sugere que áreas apropriadas para o cultivo de café na América Latina podem ser reduzidas em 88% até 2050, devido à elevação das temperaturas.
Enquanto isso, um relatório da Organização Internacional da Uva e do Vinho de 2023 também aponta as mudanças climáticas como principal motivo para o terceiro ano consecutivo de queda na produção de vinhos em todo o mundo.
“A tendência é o calor aumentar e, consequentemente, afetar as produções. É preciso estarmos à frente do problema com soluções práticas como a aposta na biodiversidade”, explica o meteorologista Carlos Magno, sócio fundador do Climate Change Channel (C3 TV), o primeiro canal de TV por assinatura dedicado exclusivamente às mudanças climáticas. “As mudanças climáticas são uma realidade e afetam não só a vida das pessoas, mas a economia dos países. É hora de olharmos para isso”, comenta Magno.