A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro entregou, nesta sexta-feira (22), um documento ao Supremo Tribunal Federal com explicações sobre um eventual descumprimento de medidas cautelares e um suposto plano de fuga do Brasil.
No documento, a defesa de Bolsonaro diz que o relatório da PF causa espanto e é uma peça política com objetivo de desmoralizar o ex-presidente.
“O Relatório da Polícia Federal causa espanto. Encaixa-se como uma peça política, com o objetivo de desmoralizar um ex-presidente da República (que, quer queiram as autoridades policiais ou não, ainda é um líder político), expondo sua vida privada e acusando-o de fatos tão graves quanto descabidos. Parece incrível, mas boa parte do relatório dedica-se a um disse-me-disse sem qualquer relevância para a investigação”.
Ainda segundo a defesa, o documento com um possível pedido de asilo à Argentina era um "rascunho". Os advogados também aproveitaram para solicitar a revogação da prisão preventiva de Bolsonaro.
"A autoridade policial evidentemente sabe – posto que cediço – que para se aventar de uma prisão preventiva é preciso haver fato contemporâneo. Mas, ainda assim, tem apenas um documento, que reconhece ser mero rascunho antigo enviado por terceiro, além da indeclinável constatação de que o tal pedido não se materializou!", disse a defesa.
Entenda
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro foram indiciados pela polícia federal por tentativa de obstrução de justiça. A PF entendeu que o ex-presidente e o filho atuaram para atrapalhar as investigações sobre a suposta tentativa de golpe.
No relatório, entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), investigadores apontam que o ex-presidente planejava fugir do Brasil desde fevereiro de 2024. Investigadores encontraram mensagens no celular de Bolsonaro em que ele pretendia pedir asilo político na Argentina. E um rascunho de um documento destinado ao presidente Javier Milei, alegando perseguição política.
Esse inquérito foi aberto em maio, a pedido da procuradoria-geral da república, que apontou a atuação de Eduardo Bolsonaro em busca de sanções contra ministros do STF junto ao governo dos Estados Unidos.
Esse caso levou à abertura de investigação contra Jair Bolsonaro, que já cumpre prisão domiciliar por descumprimento de ordens judiciais. Agora, ele foi intimado a prestar esclarecimentos em 48 horas por ter reiteradamente descumprido as medidas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, além da reiteração das condutas ilícitas e a existência de comprovado risco de fuga. Moraes vai decidir se anula o direito da prisão domiciliar e uso de tornozeleira, podendo levar o ex-presidente a cadeia até o julgamento em setembro.
Do celular do ex-presidente, foram extraídos 11 áudios. Investigadores afirmam que as mensagens de voz que foram trocadas mostram, passo a passo, o que eles dizem ser uma tentativa de atrapalhar a investigação.
As conversas tinham sido apagadas, mas peritos da PF conseguiram recuperar o material. Segundo a corporação, esse conteúdo confirma que Bolsonaro desrespeitava as cautelares e fazia isso de forma intencional. Para a PF, o áudio principal é de uma conversa do ex-presidente com o pastor Silas Malafaia onde ele teria condicionado a negociação sobre o tarifaço à votação da anistia.
Em outro trecho, a polícia aponta que Eduardo enviou mensagens ao pai deixando evidente que a intenção não era aprovar anistia para os condenados pelo 8 de janeiro, mas sim para interesses pessoais. E que ele deveria publicar uma mensagem de agradecimento ao presidente Donald Trump pelas sanções aplicadas ao Brasil.
Em outra mensagem, Silas Malafaia afirma que quer ver uma reação de Bolsonaro. De acordo com o relatório, isso demonstrou fortes indícios da participação do pastor, que teria exercido papel de liderança nas ações planejadas pelo grupo.
Em uma rede social, Eduardo disse que a atuação dele nos estados unidos não tem como objetivo interferir no processo no Brasil. Chamou de crime absolutamente delirante os apontamentos da PF e disse ser lamentável e vergonhoso o que ele chamou de vazamento das conversas. A defesa de Bolsonaro ainda não se manifestou.