Cada vez mais popular entre quem pretende emagrecer, sair de forma mais rápida da obesidade ou do sobrepeso, o Ozempic teve aumento de 663% nas vendas nos últimos 6 anos, segundo o Pharmaceutical Market Brazil. Com o uso cada vez mais amplo, relatos de efeitos adversos da medicação são compartilhados nas redes sociais. Um deles, que não está na bula e atualmente é pesquisado por cientistas, é a gravidez.
Na bula da semaglutida, o laboratório recomenda que caso queira engravidar, é preciso parar de utilizar o medicamento pelo menos dois meses antes do planejado. Mas, no caso lojista Valéria Boveto, a gravidez em meio ao tratamento com Ozempic foi uma surpresa.
Valéria conta que tentava engravidar naturalmente há seis anos Fez exames, e o endocrinologista a sugeriu utilizar Ozempic para emagrecer e, então, estar apta a fazer um tratamento hormonal para poder engravidar. “Eu tomei duas canetas inteiras do medicamento, perdi 14kg e minha ginecologista falava para eu ajeitar a saúde e ir atrás de um tratamento. Mas faltando um mês para eu me consultar com um especialista, engravidei”, conta.
A lojista afirma que não esperava engravidar naturalmente e atribui a gravidez ao Ozempic. “Eu ia a um médico de fertilizações, nem precisei. E minha gravidez foi tranquila, sem nenhuma complicação. Mas tive que parar com o medicamento na hora que descobri por recomendação médica”, diz.
O mesmo aconteceu com a analista de suporte Milena Pitta. Ela, que tentava engravidar há cinco anos e fez diversos tratamentos, engordou 27kg após a primeira gravidez. A gestação ocorreu por fertilização in vitro e quase dois anos após a vinda do primeiro filho, começou o tratamento com Ozempic e engravidou de forma não planejada.
“Demorei três meses para acreditar, porque nunca consegui engravidar naturalmente, sou laudada com infertilidade”, relata Milena. A analista comenta que a segunda gravidez teve algumas complicações. “Esta gestação foi mais complicada, tive diabete gestacional, pressão alta, tudo diferente da primeira. Mas sinto que o medicamento me ajudou a engravidar, eu tinha perdido 8kg com o tratamento”, relata.
Em grupos nas redes sociais são frequentes os relatos de mulheres que engravidaram e associam a gestação com o Ozempic e outros medicamentos similares, como o Wegovy e Saxenda.
Apesar dos relatos, não há evidências que o Ozempic ajude a engravidar
Estudos recentes não encontraram relação entre a semaglutida e o nível de fertilidade de uma mulher. Segundo a farmacêutica Silmeri Bolognani, os efeitos principais do medicamento são a regulação da insulina e da glucagon, controlando a glicemia e auxiliando na perda de peso.
“Não há evidências nem de influenciar na gravidez, nem em comprometer a eficácia de anticoncepcionais. A ação do Ozempic é de controlar a glicemia apenas”, pontua.
Para Ana Luisa Vilela, médica nutróloga do Hospital das Clínicas, o medicamento não influencia na absorção de componentes de anticoncepcionais. “Tratamentos com GLP-1, como o Ozempic, se mostram efetivos também para melhorar o metabolismo, ajudando o organismo a funcionar e absorver medicações”, afirma.
Emagrecimento é o fator para aumento da fertilidade
Apesar de relatos responsabilizarem o Ozempic, é o efeito dele que pode ser o principal fator responsável pelo aumento da fertilidade. A ginecologista e obstetra Janifer Trizi pontua que a obesidade é fator para a infertilidade na mulher e, emagrecendo, há uma maior facilidade para engravidar.
“Os hormônios são sintetizados a partir do colesterol. Quando a pessoa está obesa, os hormônios ficam onde tem mais gordura e, ao emagrecer, eles voltam a ser sintetizados no ovário. Assim, a fertilidade aumenta”, explica.
No caso de Milena Pitta e Valéria Bonete, ambas citaram que após emagrecerem, a gravidez aconteceu naturalmente. Segundo a ginecologista, a fertilidade aumenta também pela diminuição do nível de açúcar na dieta. “Os ovários passam a ovular de forma mais regular com a produção adequada de hormônios e menor resistência insulínica”, diz.
O emagrecimento, segundo a médica Ana Luisa Vilela, é recomendado para inférteis justamente por regular a liberação hormonal da mulher. “Não muda apenas o metabolismo, mas também a maturação e nidação do óvulo”, indica.
Para a Band, especialistas da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia pontuam que existe a relação entre infertilidade e obesidade. “Quando as mulheres perdem peso, é comum acabarem engravidando, pois a perda de peso, por si só, melhora a fertilidade”, diz a nota.