O paranaense Lucas Felype Vieira Bueno, de 20 anos, concedeu uma entrevista exclusiva à Tarobá e revelou detalhes de sua trajetória e fuga da Ucrânia. Lucas se alistou voluntariamente para atuar na área de tecnologia militar, mas, devido a um erro em sua documentação, acabou sendo encaminhado para o treinamento de infantaria, o que motivou sua decisão de deixar o país.
Lucas conheceu a proposta do exército ucraniano pela internet, conversou com um recrutador e deu início aos trâmites burocráticos, como a emissão do passaporte. A intenção era atuar na área de tecnologia, especialmente no manuseio de drones, ainda que ele não tivesse experiência direta, apenas conhecimento em eletrônica. A expectativa era aprender durante o curso, mas segundo o exército ucraniano Lucas teria sido vítima de um erro documental que impediu sua inscrição.
Após o treinamento básico, Lucas foi enviado a um curso de infantaria avançada (uma unidade de combate a pé), e foi neste momento que percebeu que precisava deixar a Ucrânia. A decisão foi reforçada ao ver colegas com menos tempo de preparo sendo enviados para missões, muitos dos quais foram capturados pela Rússia ou estão desaparecidos.
Ao saber que seria realocado à infantaria, Lucas tentou contato com o governo brasileiro em busca de uma possível repatriação. No entanto, segundo ele, a embaixada brasileira afirmou que suas ações estavam limitadas, por se tratar de um contrato de trabalho voluntário com outro país.
A fuga de Lucas começou em Kharkiv, onde ele caminhou 16 quilômetros por uma rodovia até uma pequena cidade, de onde conseguiu carona em uma van até a rodoviária local. De lá, ele pegou um ônibus até Kiev, capital ucraniana, e então embarcou para a Espanha, onde atualmente está com um visto de turismo e já deu entrada no processo para permanecer legalmente no país.
Apesar das dificuldades, Lucas não acredita que seu caso seja parte de um "modus operandi" do exército ucraniano. Ele afirmou que o erro foi pontual, e que não conhece outros voluntários que tenham passado pela mesma situação.
Sobre uma possível acusação de deserção, Lucas disse que não teme deportação. De acordo com seus advogados, ele não é cidadão ucraniano, não foi convocado oficialmente para a guerra e, portanto, não estaria sujeito às mesmas penalidades. No entanto, ele admite a possibilidade de uma eventual condenação por abandono contratual.
Em relação ao contrato com o exército ucraniano, Lucas afirmou que o documento não detalhava salário, servindo mais como registro de prestação de serviço. Dependendo da função, ele disse que voluntários estrangeiros podem receber até R$ 25 mil por mês, e garantiu que recebeu todos os pagamentos em dia durante o tempo em que esteve ligado ao exército.
Hoje, o jovem pretende permanecer na Europa, onde diz ter encontrado melhores oportunidades de crescimento. Ele não chegou a participar de combates diretos, mas contou que seu local de treinamento era uma zona amarela, com frequente risco de bombardeios e sobrevoo de drones inimigos. Ele comparou o treinamento a estar “praticamente dentro de uma situação de guerra”.
Apesar dos momentos de tensão, Lucas afirmou que não se arrepende da decisão de ir à Ucrânia. “Saí de lá muito mais forte”, declarou, destacando que a experiência trouxe aprendizados e mudanças em sua mentalidade.
Mesmo com o caso sendo tratado por Lucas como uma exceção, a recomendação do Itamaraty é clara: que brasileiros evitem aceitar propostas de alistamento estrangeiro, sobretudo em países em guerra, diante dos riscos à integridade física e das restrições contratuais severas envolvidas.