O senador governista Fabiano Contarato (PT-ES) será o presidente da CPI do Crime Organizado. A vitória significa um alívio pelo potencial de desgaste que a comissão representa para a gestão Lula.
Contarato recebeu 6 votos. Ele ficou à frente do nome da oposição, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que conquistou cinco votos. Após a derrota e em acordo na comissão, Mourão ficou com a vice-presidência.
A oposição reclamou de um petista no comando. Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que os governistas não assinaram o pedido de instalação da comissão e mesmo assim ficaram com a presidência.
Contarato já divergiu do PT sobre segurança e afirmou que será fiel a seus ideais. Em discurso antes da eleição do presidente da CPI, ele declarou que os políticos não devem ser igualados por pertencer a um partido e lembrou que foi delegado por 27 anos.
O senador votou pelo fim da "saidinha" de presos. Na ocasião, foi contra veto de Lula sobre o assunto. Ele justificou que não acha o benefício razoável.
A CPI pretende combater o crime organizado. Ela vai durar 120 dias, com o principal foco no Comando Vermelho e no PCC (Primeiro Comando da Capital). Serão investigados a estrutura, o funcionamento e como se deu a expansão das facções. Ela pode ser prorrogada por mais 60 dias.
O relator será o senador Alessandro Vieira (MDB-SE). A escolha dele foi consenso entre governistas e oposição. Ele foi o parlamentar que sugeriu a criação da comissão.
CPI aprovou o plano de trabalho do relator. Ele fez o convite para comparecerem ministros do governo Lula e 11 governadores, incluindo Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Cláudio Castro (PL-RJ), origem das maiores facções.
Vieira montou recorte com os estados mais seguros e os estados menos seguros. Ele usou como base os indicadores do Ministério da Justiça e do Fórum Nacional de Segurança Pública.
O que disse o presidente eleito
"A segurança pública não deve ser uma pauta apenas da direita, nem uma bandeira exclusiva de conservadores. É uma obrigação de todos os que acreditam na vida, na justiça e na dignidade."
"Não permitirei que o debate sobre segurança pública seja sequestrado por discursos fáceis e populistas. O combate ao crime organizado exige seriedade e inteligência, não pirotecnia."
"O progressismo, para mim, é exatamente o oposto, enfrentar a realidade de frente, não ignorá-la. Eu acredito, sim, na ressocialização, mas não acredito em impunidade disfarçada de compaixão. O que me move é a defesa da vida, da justiça, da verdade, não conveniência política."
"Essa operação [no Rio, na semana passada] escancarou uma realidade ainda mais difícil. Ela não foi a única operação que vitimou pessoas inocentes ou aprofundou o sofrimento de quem vive nas comunidades. Crianças continuam morrendo em tiroteios, motoristas e passageiros são assassinados por entrarem nas comunidades sem saber das regras impostas, e moradores vivem como reféns das facções que controlam o território. Por mais que as operações sejam necessárias, jamais podemos comemorar a morte de qualquer pessoa. A morte, em todos os casos, evidencia um fracasso do poder público, diante de todas as instituições que compõem o sistema de segurança pública. - Fabiano Contarato (PT-ES), presidente da CPI do Crime Organizado.
O parlamentar promete uma condução técnica dos trabalhos. Vieira adiantou que a lista de depoimentos terá governadores, secretários de Segurança Pública, especialistas e moradores de comunidades vítimas de violência.
Interesses políticos e eleitorais podem comprometer o caráter técnico. A comissão foi instalada a menos de um ano da eleição. Ela vai tratar de um assunto cercado de polarização e em que a estratégia Lula não tem aprovação da maioria da população.
A direita enxerga uma oportunidade de conquistar apoio e votos Outro efeito é mudar a agenda nacional, deixando em segundo plano o tarifaço e as atitudes de Eduardo Bolsonaro no Estados Unidos.
O pedido de CPI é de 17 de junho, mas o Senado não se mobilizou. O assunto só ganhou prioridade com a megaoperação da polícia no Rio de Janeiro.
A instalação só foi marcada na quarta passada, dia seguinte ao confronto que deixou 121 mortos. Desde então, governistas e oposição começaram uma disputa nos bastidores para conseguir ter o presidente da comissão.
Oposição e governo escalam elite
A oposição escalou Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para a comissão. Ele é presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado e, desde a megaoperação, o senador busca colar no governo a marca de quem defende bandido.
Os governistas são maioria e escalaram um time de peso. O líder do PT no Senado (Rogério Carvalho) foi outro indicado.
Os 11 integrantes da CPI estão distribuídos das seguintes maneira:
Governistas
Rogério Carvalho (PT-SE);
Fabiano Contarato (PT-ES) - presidente;
Otto Alencar (PSD-BA);
Angelo Coronel (PSD-BA);
Jorge Kajuru (PSB-GO)
Oposição
Márcio Bittar (PL-AC);
Flávio Bolsonaro (PL-RJ);
Magno Malta (PL-ES);
Marcos do Val (Podemos-ES);
Hamilton Mourão (Republicanos-RS)
Relator
Alessandro Veira (MDB-SE)