Cores brilhantes, visual inofensivo e com jogabilidade fácil: basta fazer uma aposta, apertar um botão e ganhar. Dinheiro fácil, sem muito esforço e ainda se divertindo: essa é a promessa feita por diversos influenciadores pela internet, que divulgam o 'Jogo do Tigrinho' nas redes sociais. Mas a realidade é bem diferente.
A roleta não é programada para as pessoas terem sorte. Quando o influenciador divulga, mostra que está sempre ganhando, mas o público cai em uma cilada. Foi o caso da empresária Vitória Maria Bittencourt, que adquiriu uma dívida de R$ 110 mil graças ao 'Jogo do Tigrinho'.
No início, parecia a solução de todos os problemas. "Comecei a jogar de R$ 30 a R$ 100, até que um dia, com R$ 50, ganhei R$ 800", relembra Vitória. Mas agora, ela está afundada em dívidas. "Perdi R$ 4 mil, aí ia ao banco, fazia um empréstimo de R$ 4 mil, aí perdia mais R$ 10 mil. Fazia um empréstimo de R$ 15 mil para cobrir os 10 e jogar mais R$ 5 mil. E com isso agora tenho dívida ativa de R$ 110 mil", conta.
A Polícia Civil descobriu que a versão usada para fazer a propaganda dos jogos de azar não é a que todos podem baixar, é a chamada 'demo', uma demonstração. Os seguidores, sem saber disso, acabam como Vitória Maria e acreditando na mentira, perdem valores e até bens.
Só no estado de São Paulo foram registrados mais de 500 boletins de ocorrência mencionando o jogo do tigrinho desde o ano passado. A polícia acredita que o número de vítimas seja ainda maior, por haver outras falsas promessas de ganhos milionários na internet, envolvendo criptomoedas, pirâmides financeiras e rifas online — quase todas ilegais.
O que todos esses golpes têm em comum é a propaganda enganosa feita por influenciadores, pessoas com muitos seguidores nas redes sociais que usam a fama para atrair novas vítimas e ganhar muito dinheiro com isso.
Esta semana, uma operação no Rio de Janeiro terminou com a prisão de cinco influenciadores, suspeitos de movimentar mais de R$ 15 milhões em rifas ilegais com resultados manipulados.
No escritório da advogada Priscila Freitas, o número de vítimas do 'Jogo do Tigrinho' não para de aumentar. "Tem o crime contra o sistema financeiro, dependendo da forma de divulgação, há o crime contra o consumidor e até fraude e estelionato", explica a advogada.