Pelo menos 36 pessoas morreram e um número não revelado de moradores permanece preso em um incêndio de grandes proporções que atingiu múltiplos edifícios de um complexo residencial no distrito de Tai Po, no norte de Hong Kong, nesta quarta-feira (26). As chamas e a densa fumaça preta consumiram as torres de 31 andares, iluminando o céu da noite.
O governo de Hong Kong confirmou as mortes, que incluem um membro do corpo de bombeiros, identificado apenas como Ho, e informou que mais de dez pessoas ficaram feridas, com duas em estado crítico devido a queimaduras graves.
O Corpo de Bombeiros recebeu os primeiros relatos do incêndio no Wang Fuk Court às 14h51 (hora local). Devido aos ventos fortes, o fogo se alastrou rapidamente, atingindo sete dos oito blocos do complexo. Por volta das 18h22, o alarme foi elevado ao nível 5, o mais alto da cidade.
"Não sei onde vou dormir", relata morador
O Wang Fuk Court é um grande complexo de habitação subsidiada pelo governo, ocupado desde 1983 e localizado no movimentado distrito suburbano de Tai Po, uma das áreas mais densamente povoadas do mundo.
Um morador, Harry Cheung, de 66 anos, que vive há mais de 40 anos em um dos blocos, relatou ter ouvido "um barulho muito alto por volta das 14h45" (06h45 GMT). Ao ver o incêndio começar em um bloco vizinho, disse ter voltado imediatamente para casa para "arrumar suas coisas".
A dor do desamparo foi compartilhada por outro residente, identificado como Wong, de 71 anos, que foi visto chorando e soluçando, afirmando que sua esposa estava presa em um dos edifícios. Nas proximidades, várias pessoas observavam o desastre de uma passarela elevada, tirando fotos com visível desânimo.
Andaimes de bambu e obras dificultaram resgate
A propagação das chamas foi intensificada pela presença de andaimes de bambu na fachada de algumas torres, que estavam em reforma havia cerca de um ano. Hong Kong é um dos últimos lugares do mundo onde o bambu ainda é amplamente utilizado na construção civil.
No entanto, o governo anunciou em março a decisão de iniciar a eliminação gradual do uso de bambu em obras públicas, exigindo que 50% dos projetos passassem a utilizar estruturas metálicas, citando questões de segurança.
Testemunhas e posts em redes sociais relataram ter visto quadros de andaimes caírem ao chão enquanto bombeiros lutavam para combater o fogo.
Bloqueio de vias e histórico de incêndios
Devido à gravidade do incêndio, o Departamento de Transportes de Hong Kong fechou um trecho inteiro da estrada Tai Po, uma das duas principais rodovias da cidade, e os ônibus estão sendo desviados.
A área de Hong Kong, conhecida por seu mercado imobiliário extremamente caro e aluguéis altíssimos, não é estranha a incidentes graves. Em abril do ano passado, um incêndio em um prédio residencial densamente povoado no distrito de Kowloon causou a morte de cinco pessoas.
Apesar de a área de Y.Y. Chan, um morador de 68 anos, já ter tido o fogo extinto, ele comentou que "ver os incêndios ao redor ainda faz a gente se sentir terrível". Ele conclui que, dado o cenário imobiliário da cidade, "não é como se pudéssemos realmente nos mudar para qualquer lugar... apenas temos que encarar a realidade".