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ANAC proíbe Voepass de voar após tragédia; famílias de vítimas veem início da justiça

25 jun 2025 às 16:14

Na última terça-feira (24), a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) cassou de forma definitiva o certificado de operação aérea da Passaredo Transportes Aéreos, empresa responsável pela Voepass. A decisão ocorre 10 meses após a queda de um avião da companhia em Vinhedo, no interior de São Paulo, que resultou em 62 mortes. Nenhum dos ocupantes do voo sobreviveu.

Os familiares das vítimas, que estavam a bordo do voo que saiu de Cascavel com destino a São Paulo, veem a decisão como o início da justiça pelas mortes causadas no acidente.

Maria de Fátima Albuquerque, mãe da médica Arianne Albuquerque, que estava no voo, afirmou que as famílias mantiveram contato constante com a ANAC e que houve pressão organizada dos familiares para a cassação do direito de operar da empresa.

Ela também denunciou que a Voepass teria enganado a ANAC por meio de documentos falsos e trocas irregulares de peças. Segundo Maria de Fátima, a empresa utilizava peças registradas como novas, mas que, na verdade, eram de segunda mão.

Maria de Fátima declarou ainda que a tragédia não foi fruto do acaso ou de um momento de negligência, mas sim resultado de más práticas mantidas pela Voepass ao longo dos anos.

A empresa Voepass estava com suas operações suspensas desde 11 de março de 2025, e a cassação definitiva representa o fim do processo de operação assistida conduzido pela ANAC, instaurado após o acidente em Vinhedo. Durante esse período, a agência identificou falhas graves nas manutenções obrigatórias, que não eram detectadas ou corrigidas pelo controle interno da empresa, comprometendo a capacidade da Voepass de atuar de forma preventiva.

Maria de Fátima também afirmou que uma decisão anterior da ANAC sobre a aeronave poderia ter evitado a tragédia e ressaltou que a estrutura da empresa já apresentava problemas.

A ANAC já havia apontado problemas similares antes da tragédia, que se repetiram ao longo do processo de fiscalização, como a falta de troca de itens obrigatórios, o que culminou na cassação do direito de voo da Voepass.

Para a associação das famílias das vítimas, essa decisão representa apenas o começo da luta por justiça. Maria de Fátima disse ainda que aguarda os relatórios oficiais do CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) e da Polícia Federal sobre o acidente.


Entenda: 

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) cassou de forma definitiva o Certificado de Operador Aéreo (COA) da Passaredo Transportes Aéreos, principal empresa da Voepass. Com isso, a companhia fica impedida de realizar voos.

A decisão ocorre 10 meses após a queda de um avião da empresa em Vinhedo (SP), que provocou 62 mortes.

Além de ter suas operações cassadas, a empresa ainda deverá arcar com sanções pecuniárias no valor de R$ 570,4 mil.

Em nota, a Anac destacou que identificou "falhas graves e persistentes" no Sistema de Análise e Supervisão Continuada (SASC) da companhia.
 

“No curso da operação assistida, a Anac verificou falhas na execução de itens de inspeção obrigatória de manutenção, que não foram detectadas nem corrigidas pelos controles internos da empresa — um indício de que o sistema de supervisão da companhia havia se degradado, comprometendo sua capacidade de atuar preventivamente […] A estrutura da empresa deixou de oferecer garantias de que eventuais falhas seriam tratadas antes de comprometer a segurança das operações”, informou o órgão.


Não há mais possibilidade de recurso por parte da empresa.