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Cirurgia inédita é feita em Londrina para reconstrução facial de jovem

19 jul 2024 às 16:08

Quando seguia para o trabalho, Sthefany Felipe Verteiro, de 23 anos, bateu de moto contra uma colheitadeira que cruzava a rodovia, entre Bela Vista do Paraíso e Sertanópolis, no Paraná, em abril de 2023. A jovem, que tinha casamento marcado para maio, precisou de uma operação para ser salva, mas sua vida nunca mais foi a mesma. Ela passou a enxergar de forma duplicada, condição conhecida como “diploplia”. Na última sexta-feira (12), mais de um ano após o trauma, uma cirurgia inédita no Brasil foi realizada no Hospital Evangélico de Londrina, no Paraná, para reconstruir sua face, com uma tecnologia da Alemanha, e com apoio de especialistas do Hospital Sírio Libânes e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).


Como o acidente destruiu várias camadas do rosto de Sthefany, provocou a perda de gordura envolta do olho esquerdo, chamada no meio médico de “gordura periorbital”. Com os tecidos danificados e sem sustentação da gordura, o globo ocular mudou de posição, se afundou, o que causou a visão dobrada. “Se eu olho fixamente para frente é normal, mas dependendo dos ângulos que eu olho é diplopia, ou seja, tudo dobrado. É uma sensação de instabilidade e atrapalha”, explica a jovem. 


Diante da gravidade da condição da paciente, o cirurgião Buco Maxilo Facial Dr. Daniel Gaziri, do Hospital Evangélico, se deparou com um verdadeiro desafio. Ele teria que encontrar uma forma de dar o contorno ideal para o globo ocular, permitindo que ele voltasse a posição correta e possibilitasse a fusão de imagens, sem a diplopia.  Para isso, um grande estudo com profissionais de Londrina, São Paulo e da Alemanha foi feito. Diversos exames de imagens, como ressonância e tomografia, foram realizados para dimensionar a perda de tecidos da paciente e projetar uma prótese 3D em titânio altamente precisa.


Prótese 3D em titânio

 

Após uma pesquisa profunda e inovadora sobre as quatro paredes que contornam o globo ocular da jovem, a prótese foi impressa no país alemão por cirurgiões, engenheiros e profissionais da tecnologia da informação. “O procedimento é ainda mais inédito porque a prótese é do tipo puzzle, um quebra-cabeça. Ela veio desmontada, e montamos dentro da paciente. Precisou ser feito dessa forma pelo fato da prótese ser um pouco maior, e poderia ser mais difícil caso tivéssemos que instalar inteira”. 


Um dos objetivos alcançados pela cirurgia foi de recolocar o globo ocular na posição correta, alinhado ao olho direito. Isso foi feito por meio de uma técnica chamada “espelhamento”, em que o olho direito, que não foi danificado, foi espelhado para obter a prótese. Além da visão, a harmonia facial e estética foram pontos a serem alcançados, para que a jovem possa retomar a autoestima. 


“A cirurgia foi um sucesso e ocorreu dentro do planejado. Uma vantagem dessa tecnologia é a capacidade de previsibilidade dos resultados. A paciente ficou extremamente satisfeita quando mostramos para ela a tomografia do pós operatório imediato, é nítido que resolvemos o problema dela”, ressalta o cirurgião. Com os globos oculares alinhados, Sthefany passa por um processo de recuperação, que deve levar 30 dias para ter o rosto desinchado, e cerca de três meses para retomar a vida normal. 


A jovem conta que tem como plano para o futuro casar com seu noivo, e que está feliz com o resultado, “Eu achei que realmente foi uma oportunidade de Deus para voltar tudo ao normal e eu caminhar minha vida como era antes. Mesmo com o medo por ser a primeira feita no Brasil desse tipo, eu tive que confiar, e eu confiei no cirurgião e que Deus tinha preparado os melhores médicos para cuidar de mim. Estou mais feliz depois dessa segunda grande cirurgia, mais tranquila, calma, quero aproveitar cada vez mais as coisas ao meu redor e olhar para frente”.


Gaziri destaca a importância do procedimento ser realizado pela primeira vez no Brasil em uma cidade no interior, com total acesso a tecnologia. “A divulgação da existência dessa tecnologia é fundamental para a sociedade porque há vários pacientes que estão em casa, com vergonha da própria face, depressivos, à margem da sociedade, por desconhecer que pode ser feito um tratamento como esse. É a primeira vez em que uma cirurgia desse porte com todo o conjunto de tecnologia é feito no país, e nos traz muito orgulho. Para nós é interessante porque traz a oportunidade de transformar Londrina em um polo de educação continuada dessa área”