Uma crise diplomática entre Brasil e Paraguai, provocada pela invasão de computadores de autoridades paraguaias, pode afetar diretamente as negociações do Tratado de Itaipu.
O caso veio à tona após a divulgação de uma operação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que teria invadido sistemas do governo paraguaio, incluindo computadores da presidência, do congresso e de autoridades envolvidas nas discussões sobre a usina. Segundo um depoimento de um funcionário da Abin, amplamente divulgado pela imprensa brasileira, o objetivo era obter informações sigilosas sobre os valores em negociação do Anexo C do tratado.
Esse anexo define a fórmula de cálculo do preço da energia elétrica gerada pela usina binacional e, com o tratado completando 50 anos em 2023, tornou-se objeto de revisão. Em fevereiro deste ano, Brasil e Paraguai haviam acordado firmar um novo Anexo C até maio. O Paraguai busca aumentar o valor do quilowatt vendido ao Brasil, o que impactaria diretamente a economia do país.
As divergências nas negociações já haviam causado problemas no início de 2024, quando o orçamento da usina chegou a ser bloqueado pela primeira vez na história, resultando em atrasos no pagamento de funcionários. Agora, com a revelação da suposta espionagem, o governo paraguaio convocou o embaixador brasileiro em Assunção para exigir explicações, o que deve paralisar temporariamente as tratativas.
O Itamaraty esclareceu que a ação de inteligência foi autorizada em junho de 2022, ainda no governo Bolsonaro, e suspensa em março de 2023, no início da gestão Lula.