Linha de produção a todo vapor, e de uma hora para outra, no escuro! Máquinas trabalhando em ritmo acelerado. E de repente, de novo! Apagão e prejuízo! Os picos de energia elétrica representam outra dor crônica das indústrias do Paraná.
Em Cascavel, no Oeste do Estado, às margens da BR-277, numa espécie de marginal de chão batido, localizada próxima a um conjunto de indústrias, a precariedade fica evidente. Além de carência logística, os postes em zigue-zague são um sinal de que algo está desalinhado e incompatível com o ritmo da necessidade. "A indústria para e trezentos funcionários ficam de braços cruzados. Sem contar todos os prejuízos de ligação de máquinas, atraso no trabalho, diversas vezes tivemos que acionar o seguro e chegamos a perder equipamentos", relata Itagiba Fortunato, proprietário de uma indústria gráfica.
Alguns quilômetros adiante, na BR-277, a nossa equipe de reportagem visitou um núcleo industrial inaugurado em 2012. Doze anos se passaram e a infraestrutura adequada ainda não chegou. São 15 indústrias, dos mais variados setores, que convivem com o problema dos picos de energia. por aqui, apagão, tem todo dia. "As quedas de energia estão recorrentes e pedimos pelo amor de Deus, uma solução", declara Carlitos Sopelsa, dono de uma indústria de papel, em tom de apelo.
A pesquisa de sondagem industrial da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), que revela a percepção do setor sobre a expectativa e também o desempenho, apontou que os constantes picos de energia tem sido um grande fator limitante e decisivo na hora da implantação de um novo parque fabril.
Nas linhas de produção a automação marca presença. Pessoas e tecnologia se completam para uma produção de excelência. Fazem parte do conceito da indústria 5.0; mas sem luz, a conexão entre homem e máquina fica interrompida. O prejuízo rouba a cena. "Toda indústria depende de energia elétrica. Não tem como trabalhar sem energia elétrica boa", observa Antônio Olivo, presidente do Núcleo Industrial e proprietário de uma fábrica de pneus.
Com as quedas de energia, os transtornos geram efeito cascata. "Quando dá uma queda de energia, no caso do nosso parque industrial, a máquina não para. A bobina vai rodando e tudo o que roda nesse ínterim de queda de energia é papel que vai para o lixo", lamenta a empresária Tule Sopelsa.
Prejuízo também na indústria metalúrgica. "Do primeiro momento que cai a energia, mesmo que seja por breves segundos, perde toda a produção. Tem que reiniciar as máquinas e temos muito receio. Como são componentes eletrônicos e importados, a reposição é complicada. Quando cai a energia tem que sair procurando sinal de celular em algum lugar do pátio onde tem um pouquinho de antena para abrir o protocolo na Copel. Então, tudo atrapalha", conta Jefferson Sarreta, gerente industrial.
Na empresa de embalagens não é diferente. "Temos máquinas de até dez metros de altura, então, todas as vezes que cai a energia tem que subir nas plataformas para poder passar o filme e isso gera um desgaste. Isso gera várias interrupções durante o dia e também à noite. É comum três e até quatro quedas de energia por período", diz o empresário Rodrigo Bernardo da Silva.
Os empresários colecionam abertura de protocolos. Não faltaram reuniões com a companhia de energia. Nossa equipe buscou informações. "O atendimento na Copel ali na região não tem limitação de disponibilidade de energia. O que está ocorrendo mais recentemente são algumas interferências nessa rede. São regiões com desenvolvimento acima da média nacional, então não podemos deixar de dizer que é um desafio para nós conseguir o avanço dentro do mesmo ritmo regional", justifica o gerente de serviços da região Oeste da Copel, Paulo Nachtygal.
Em outro núcleo industrial, na BR-369, a história se repete. "Num dia como o de hoje, com céu de brigadeiro, acontecem interrupções no fornecimento. O que é pior são os picos de energia. Chegamos a ter 10 a 15 vezes por dia. Isso destrói equipamentos eletrônicos, computadores, centrais lógicas de processamento. A preocupação é grande", desabafa o empresário Cláudio Moraes Bressan, proprietário de uma indústria da construção civil.
O assunto foi tema de audiência pública na Assembleia Legislativa do Paraná, mas a companhia de energia não esteve presente. "A Copel não compareceu para ouvir os reclames do setor rural e do setor industrial. Quanto ao encaminhamento da audiência pública, os deputados estaduais devem provocar o Ministério Público, Tribunal de Contas do Estado e a Aneel para que a gente tenha respostas", reitera Luiz Eliezer Ferreira, do Departamento Técnico e Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
A Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) está atenta aos problemas dos recorrentes apagões e considera este um dos grandes entraves no estado para o desenvolvimento dos parques fabris. "Tem indústrias que não conseguem abrir, não conseguem trabalhar pelas quedas pela falta de estabilidade de ter uma automação mínima, que é um ganho de produtividade. Por falta de mão de obra temos que ir para o caminho da automação. Se não aumentarmos o nível de tecnologia, perdemos competitividade mundialmente", afirma o presidente Edson Vasconcelos.
Enquanto isso, os empresários seguem sem perder a expectativa de dias melhores.
"Esperança sempre vai ter. A gente continua acreditando, investindo em virtude dessa esperança, mas a frustração é cada vez maior". (Tule Sopelsa)
"Como você vai instalar uma indústria se não tem energia para trabalhar com tranquilidade?" (Antônio Olivo)
"Se continuar dessa maneira está ficando inviável" (Carlitos Sopelsa)
"Que não fiquem apenas nas promessas, que a gente tenha uma posição firme, uma data, um projeto para que o empresário possa se sentir confiante e buscar o crescimento sempre". (Rodrigo Bernardo da Silva)