Há cidades que nascem do acaso, e há outras que brotam do encontro, de caminhos, de sonhos, de sons. Cascavel nasceu de todos eles. De um chocalho que ecoou entre as matas, de um tropeiro que abriu picadas no silêncio do mato, de um índio Kaingang que conhecia cada sombra e cada vento.
Antes que o homem desenhasse mapas, o Oeste já tinha seus guardiões. Os Kaingang, primeiros filhos desta terra, sabiam que o solo vermelho guardava segredos antigos. Depois vieram os espanhóis, fundando às margens do Paraná a Ciudad del Guairá, e com ela o primeiro sopro europeu sobre a região. O tempo passou e, com ele, vieram os tropeiros, levando sonhos e gados pelas trilhas que cruzavam o sertão.
O ciclo da erva-mate, décadas mais tarde, cobriu de verde o futuro. Na “Encruzilhada dos Gomes”, um homem simples, de apelido pitoresco, Nhô Jeca, ergueu um armazém. Sem saber, José Silvério de Oliveira plantava ali a semente da cidade que um dia se chamaria Cascavel.
A madeira, na década de 1930, transformou o cheiro das florestas em riqueza. Vieram famílias do Sul que erguiam casas de pinho, igrejas de madeira e esperanças de concreto. Em 1936, o nome Cascavel já ecoava nos registros oficiais, resistindo até à tentativa de rebatizá-la de “Aparecida dos Portos”.
Mas a voz do povo prevaleceu. O nome ficou. E com ele, a lenda. Dizem que os primeiros desbravadores encontraram, às margens de um rio, um ninho de cobras cascavéis. O perigo virou poesia, o medo virou nome. Quando a emancipação chegou, em 14 de dezembro de 1952, Cascavel já era muito mais do que uma vila. Era promessa.
Por um tempo, o aniversário foi celebrado em 14 de novembro e assim ficou, por lei e por costume, como se o próprio tempo tivesse decidido que um dia só não bastaria para conter tanta história. Da madeira ao grão, do tropeiro ao empreendedor, Cascavel reinventou-se. Tornou-se potência agropecuária, orgulho do Paraná e referência nacional.
Suas ruas largas e planejadas são o reflexo de uma cidade que nasceu olhando para frente. Hoje, aos 74 anos, Cascavel é um ponto no mapa e coração que bate no ritmo do progresso, é porto de sonhos e rota de esperanças. Entre o campo e o concreto, entre a tradição e a inovação, ela segue crescendo, firme, vibrante, como o som antigo de um guizo que nunca deixou de ecoar. E a cada aniversário, a cidade renasce, com o mesmo brilho dos pioneiros e a mesma força da terra vermelha que a sustenta.