O laudo da perícia particular tem 45 páginas e foi elaborado com base em imagens de câmeras de segurança, medições e cálculos. Com a ajuda de um software, o acidente do dia 14 de junho, que vitimou o menino Fernando Lorenzo, de 9 anos, foi reconstituído de diferentes pontos de vista. Essa é uma visão geral da ocorrência, que mostra o veículo conduzido por Márcia Pereira Sobrinho, o motociclista, que foi atingido e ficou em estado grave e os três pedestres: a mãe, o amigo da família e o menino Fernando.
Um outro ângulo mostra a visão a partir da Avenida Piquiri e e outro da Rua Paraná.
Uma quarta simulação foi feita a partir do ponto de vista do motociclista, que foi arremessado com a batida.
A velocidade dos envolvidos no acidente teve destaque no relatório. V1 é a motorista Márcia, que estava em uma velocidade bem baixa: 27,28 km/h de acordo com os cálculos da perícia. Já o V2, identificação do motociclista, estava a mais de 70 quilômetros por hora. A análise do documento em relação ao tempo de reação da motorista é bem detalhada:
“Durante a aproximação observa-se apenas breve acionamento das luzes indicativas do sistema de freio com duração aproximada de 0,66 segundo, e, logo após inicia a travessia do cruzamento sem realizar parada obrigatória e sem esboçar redução de velocidade, sendo a via devidamente sinalizada através de placa R-1 e das sinalizações horizontais presentes na via. Durante o cruzamento ocorre a colisão com V2 que seguia o fluxo preferencial da via, na sequência observa-se alteração na trajetória de V1 para a direita atingindo os pedestres e ainda uma segunda alteração de trajetória após a colisão contra os pedestres que estavam na calçada no lado esquerdo da rua e trafegando sobre a calçada, até que 4,83 segundos após a colisão se observa o novo acionamento das luzes indicativas do sistema de freio que se mantem acesas até a parada do veículo. Estudos trazem que um condutor tem um tempo de percepção de cerca de 1,0 segundo diferente dos 4,83 segundos” [...] “aqui comentados. Resultando assim em uma não tentativa de parada por parte do condutor de V1”.
Como comparativo, a perícia usa o vídeo do acidente que matou Fernando é um outro que aconteceu 11 dias depois no mesmo cruzamento, com características parecidas, indicando a diferença no tempo de acionamento do freio. E a conclusão do laudo é a seguinte:
“Com base nas informações acima contidas, análise dos documentos disponíveis e inspeções realizadas têm-se que o principal fator para o acontecimento do sinistro se deu através da invasão de via preferencial praticada por V1, tendo sua dinâmica agravada pela inexistência de tentativa de parada do veículo após a colisão”.
A perícia foi contratada pela defesa da família. Segundo o advogado Hélio Ideriha Jr., o documento confirmou a percepção dele e da mãe de Fernando em relação à demora de Márcia para acionar os freios.
A polícia deve concluir o inquérito nos próximos dez dias. Além do laudo da perícia que será juntado pelo advogado da família, a investigação também contará com o relatório da análise do celular da motorista, com a conclusão se ele estava em uso no momento do acidente. Até o momento, a Polícia trabalha com a hipótese de homicídio culposo, mas a busca é pela alteração de classificação para homicídio com dolo eventual, podendo levar o caso a júri popular.
Nós entramos em contato com os advogados de defesa da motorista, mas eles preferiram não se pronunciar.