O tom do mês que está começando é dourado, numa referência ao valor inestimável do leite materno para o desenvolvimento de recém-nascidos. São trinta dias dedicados à conscientização sobre a importância do leite humano para o desenvolvimento do bebê, mas a campanha vai além quando incluímos também a saúde global da mãe. Isso porque a amamentação é uma poderosa aliada na prevenção do câncer de mama, além de oferecer vários outros benefícios à saúde da mulher.
"Além de prevenir o câncer de mama, amamentar está associado a um menor risco de câncer de ovário e endométrio, ajuda na perda de peso pós-parto, melhora a saúde cardiovascular e a densidade óssea e ainda pode reduzir o risco de diabetes tipo 2", explica a doutora Tariane Foiato, especialista em cancerologia cirúrgica do CEONC Hospital do Câncer de Cascavel.
Instituído pela Lei 13.435/2017, o Agosto Dourado nasceu no Brasil inspirado nas iniciativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), que desde a década de 1990 promove o incentivo à amamentação ao redor do mundo em benefício da criança. Pesquisas recentes reforçam a relação da amamentação também com a redução do risco de câncer de mama. “A provável explicação para tal efeito protetor da amamentação poderia ser pelo atraso no restabelecimento dos ciclos ovulatórios”, detalha a doutora Tariane.
Estudo colaborativo que analisou dados individuais de 47 estudos epidemiológicos em 30 países, envolvendo mais de 50 mil mulheres com câncer de mama e quase 97 mil mulheres sem a doença, concluiu que as que amamentaram por um período superior a 12 meses tiveram um risco 4,3% menor de desenvolver câncer de mama se comparado às que não amamentaram. O Nurses Health Study II, publicado em 2020, acompanhou a saúde de mais de 100 mil enfermeiras nos EUA, revelando que mulheres que amamentaram por pelo menos seis meses tiveram um risco 14% menor de desenvolver câncer de mama.
Saúde hormonal
A amamentação impacta significativamente a saúde hormonal da mulher, ajudando a regular os níveis de estrogênio e progesterona, hormônios que influenciam o risco de desenvolvimento de câncer de mama e outros cânceres relacionados ao sistema reprodutor.
"Durante a lactação, a produção de prolactina aumenta, suprimindo a ovulação e reduzindo a exposição ao estrogênio. Além disso, os hormônios prolactina e oxitocina - que são elevados durante a amamentação - desempenham papéis importantes na saúde mental e física da mulher, potencialmente contribuindo para a redução do risco de câncer e modulando a resposta imune. Após o período de amamentação, ocorre a apoptose, que é morte celular programada. Este processo natural elimina células mamárias com possíveis danos no DNA, reduzindo a chance de mutações que poderiam levar ao câncer”, detalha a especialista.
Conscientizar é preciso
Destacar a amamentação nas campanhas de conscientização sobre câncer de mama, especialmente durante o Agosto Dourado, é fundamental para informar e dar apoio às mulheres nesta fase da vida. Neste sentido, a campanha difunde conhecimento que gera benefícios para o bebê e para a mãe. “É preciso desmistificar a amamentação e promover políticas de apoio para as mães lactantes”, defende Tariane.