O Fed (Federal Reserve), Banco Central dos Estados Unidos, reduziu a taxa de juros da economia norte-americana em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 3,75% e 4% ao ano, o menor patamar desde novembro de 2022. O segundo corte consecutivo dos juros nos EUA atende às expectativas dos investidores.
BC dos EUA reduziu os juros ao menor nível em quase três anos. A decisão do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na tradução literal) resulta na segunda redução consecutiva de 0,25 ponto percentual dos juros norte-americanos, para o patamar entre 3,75% e 4% ao ano. A magnitude do corte é a mesma anunciada em setembro, quando foi interrompida a estabilidade persistente desde dezembro do ano passado.
Atividade econômica em ritmo moderado e desaceleração na criação de empregos foram as principais justificativas. "A criação de empregos desacelerou este ano e a taxa de desemprego subiu ligeiramente, mas permaneceu baixa até agosto; indicadores mais recentes são consistentes com esses desenvolvimentos", diz a nota divulgada pelo comitê. "Os indicadores sugerem que a atividade econômica tem se expandido em ritmo moderado."
O corte foi aprovado apesar da inflação em alta. O comitê admite que ela "subiu desde o início do ano e permanece um tanto elevada", mas "o comitê busca atingir o máximo emprego e uma inflação de 2% no longo prazo".
"Em apoio aos seus objetivos e à luz da mudança no equilíbrio de riscos, o Comitê decidiu reduzir a meta para a taxa de juros dos fundos federais em 0,25 ponto percentual, para 3,75 a 4%." - Nota oficial do Fomc.
A votação pela queda de 0,25 ponto percentual não foi unânime. Dos 12 membors do comitê, o nome indicado pelo presidente americano Donald Trump, Stephen I. Miran, votou por uma redução de 0,5 ponto percentual, enquanto Jeffrey R. Schmid votou para não alterar a taxa de juros.
Investidores projetam novo corte de 0,25 ponto percentual em dezembro. Após o veredito de hoje atender à expectativa quase unânime do mercado financeiro, os analistas preveem a manutenção da sequência de quedas. Para o mês de dezembro, o relatório do CME Group mostra que 87,1% dos investidores preveem que a faixa dos juros dos EUA será reduzida para o intervalo entre 3,5% e 3,75% ao ano. A manutenção da taxa é esperada por 12,6%.
Sobre cortes futuros na taxa de juros, o Fomc disse estar "preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado". A mudança de rota só ocorrerá "caso surjam riscos que possam impedir a consecução das metas do comitê".
Donald Trump pressiona o BC dos Estados Unidos pela queda dos juros. Desde que reassumiu a presidência em janeiro, o republicano cobra integrantes da autoridade monetária pelos cortes. Diante da situação, já ameaçou retirar Powell do cargo e demitiu a diretora Lisa Cook, que se recusou a deixar o posto. Assim como na reunião anterior, hoje ela votou pela redução na taxa de juros. Ontem, Trump voltou ao pressionar o Fed ao dizer que o presidente do Fed é "incompetente". Em junho, ele declarou desejar que os juros fossem reduzidos a 1% ao ano.
Juros altos ajudam a conter a inflação, mas prejudicam o desenvolvimento. A elevação dos juros é utilizada como alternativa para encarecer o crédito e limitar o consumo. Com o dinheiro mais caro, a demanda por bens e serviços tende a diminuir e, consequentemente, segurar o avanço dos preços. O cenário é a principal motivação para as críticas de Trump ao comando do Banco Central.
Redução dos juros acontece em meio a apagão de dados econômicos. Apesar da paralisação orçamentária enfrentada pelo governo, os dados de inflação apresentados na semana passada mostraram uma alta menor dos preços. Há também a confirmação da trajetória de arrefecimento do nível de emprego registrada nas divulgações que antecederam o shutdown.
Efeito para o Brasil
Corte de juros nos Estados Unidos é favorável à economia nacional. A confirmação da redução das taxas na economia norte-americana representa um cenário positivo para os emergentes, a exemplo do Brasil. Os juros mais baixos nos EUA tendem a atrair maiores volumes de investimento, apesar de oferecerem um risco mais elevado. "A perspectiva de corte dos juros por parte do Fed cria um contexto favorável para os ativos de risco no mundo inteiro", afirma Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo.
"Um ambiente de juros mais baixos nos EUA reduz a atratividade dos títulos americanos e pode redirecionar parte dos investimentos para países com diferencial de juros positivo e fundamentos sólidos, como o Brasil." - Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital.
Diferencial tem motivado valorização do real ante o dólar. A discrepância superior a 11 pontos percentuais entre a taxa básica brasileira (atualmente em 15% ao ano) e os juros nos EUA é um dos motivadores para a valorização do real frente ao dólar. "Com a Selic em 15% e a inflação sob controle, o diferencial de juros permanece elevado, o que ajuda a preservar o equilíbrio cambial e dá espaço para cortes graduais na política monetária doméstica", avalia Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital.