As condições climáticas severas que atingiram as principais regiões produtoras de alimentos no Brasil marcaram o ano de 2024 para o agronegócio. A produção de soja, trigo, laranja, café e cana-de-açúcar sofreram prejuízos significativos ao longo do ano, com a seca severa e ainda, queimadas. A produção caiu e o preço destes itens sofreu altas consideráveis ao longo do ano. A pecuária também sentiu os impactos.
Apesar da safra 2024/2025 ter começado com tropeços e sustos, com atraso no plantio devido às chuvas, em setembro e outubro, tudo aponta para que 2025 seja um ano mais positivo para o agro. Veja quais são as principais tendências para o agronegócio em 2025.
Supersafra de grãos
Mesmo com um atraso no início do plantio da safra de verão nas principais regiões produtoras, a safra 2024/2025 deve ser a maior já produzida no país. A projeção inicial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de 322,5 milhões de toneladas, um aumento de 8,2% em relação à safra anterior. Na projeção, milho e soja representam 90% desse total e a área cultivada ocupa 81,39 milhões de hectares.
“As chuvas ocorridas até o momento favorecem as lavouras nos principais estados produtores. Em alguns locais tivemos curtos períodos de falta de chuva, mas não o suficiente para influenciar na estimativa de um novo recorde na produção brasileira de grãos”, destacou o presidente da Conab, Edegar Pretto.
Recuperação econômica
As previsões para 2025 são bastante otimistas em relação à recuperação do poder econômico gerado pelo agronegócio. O Produto Interno Bruto do agro deve crescer 5%, impulsionado por melhores condições climáticas (em relação ao ano passado), a recuperação nos preços das commodities, investimentos no setor agroindustrial de insumos e as exportações. A produção de grãos está estimada em 322 milhões de toneladas, com destaque para a soja, que pode registrar uma produção maior de até 12% em relação a 2024, chegando a 166 milhões de toneladas.
“O PIB do agro deve crescer em 2025, mas os cenários externo e interno como a política fiscal, câmbio, inflação e taxa Selic, são desafiadores para os produtores rurais brasileiros”, afirmou o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins.
Ano mais quente
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou, em dezembro, que o fenômeno La Niña, que era esperado para 2024, deve se fortalecer apenas em 2025. As projeções da organização apontam uma probabilidade de 60% para a ocorrência do La Niña entre janeiro fevereiro.
Outra projeção, realizada pelo Centro de Predição Climática da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), indica que o fenômeno tem 71% de chances de ocorrer até março de 2025, com impactos mais fracos e de curta duração.
O La Niña descreve o resfriamento em larga escala das temperaturas da superfície do Pacífico equatorial central e oriental, juntamente com mudanças na circulação atmosférica tropical. Os efeitos de cada La Niña variam dependendo de sua intensidade, mas eles costumam diminuir (ou, no contexto da crise climática, limitar o crescimento) a temperatura média global.
No entanto, as temperaturas médias globais seguem batendo recordes, como observado neste verão no Hemisfério Norte, já considerado o mais quente da história. “Desde junho de 2023, temos visto uma longa sequência de temperaturas globais excepcionais da superfície terrestre e marítima. Mesmo que um evento de resfriamento de curto prazo do La Niña ocorra, ele não mudará a trajetória de longo prazo de aumento das temperaturas globais devido aos gases de efeito estufa que se acumulam na atmosfera”, observou a secretária-geral da OMM, Celeste Paulo.
Carnes mais caras
Os preços das carnes bovinas já começaram a registrar altas para o consumidor no segundo semestre de 2024 e tudo aponta para novas altas ao longo de 2025. As principais razões para esta subida de preços são as mudanças climáticas, exportações, inflação e a menor disponibilidade. Entre janeiro e novembro de 2024, as carnes bovinas acumularam altas de 15% e a tendência é que os preços subam mais a partir de 2025 devido à falta de animais prontos no campo (bovinos com peso suficiente para serem enviados aos frigoríficos).
O clima que afetou a qualidade das pastagens no Brasil e a alta das exportações foram os motivos mais pontuais que deixaram o produto mais caro durante o ano, mas para os próximos dois anos, a oferta será crucial. “A oferta de bovinos começou a ficar mais restrita no campo e um dos motivos que explica isso são os ciclos naturais da pecuária, que são períodos de flutuação de preços que seguem o ritmo da atividade, fazendo com que o número de animais aumente ou diminua”, explica o economista Felipe Serigatti, da FGV Agro.