O desmatamento no Cerrado aumentou 68%, atingindo mais de 1,1 milhão de hectares em 2023 e superando, pela primeira vez, as perdas registradas na Amazônia. A área equivale a 61% de todo o desmatamento registrado no Brasil no ano passado e equivale a quase 2,4 vezes todo o desmatamento registrado na floresta amazônica. Os dados foram publicados nesta terça-feira (28) pelo RAD (Relatório Anual de Desmatamento) e produzidos por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) na Rede MapBiomas.
Entre 2019 e 2023, foram 8,5 milhões de hectares de vegetação nativa desmatados no Brasil, sendo 52% na Amazônia e 39% no Cerrado. Apenas no ano passado, os dois biomas, que cobrem cerca de 73% do país, perderam juntos cerca de 1,5 milhões de hectares - 85% de todo o desmatamento mapeado em 2023. Na lista dos 50 municípios que mais perderam vegetação nativa, em 2023, 33 estão inseridos totalmente ou parcialmente no bioma Cerrado.
Apesar do aumento no Cerrado, o desmatamento total no Brasil registrou queda de 12% em 2023, passando de pouco mais de 2 milhões, em 2022, para 1,8 milhões de hectares, em 2023. Caatinga e Pantanal foram outros biomas que registraram aumentos, de 43% e 59%, respectivamente. Já Mata Atlântica e Pampa reduziram sua área desmatada em 60% e 50%.
“Combater o desmatamento no Cerrado se torna um desafio a mais em um contexto onde a legislação é permissiva no bioma. Por isso, precisamos ter mais transparência e controle sobre a questão da legalidade para que se possa aprimorar e desenhar politicas públicas e privadas, que acabem com o desmatamento ilegal e desincentive o desmatamento legal, visando um uso mais eficiente das áreas já desmatadas”, alerta Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.
O desmatamento no Cerrado também repetiu o mesmo perfil registrado nos anos anteriores - cerca de 65% de toda a área desmatada foi perdida em alertas de grande porte, com mais de 100 hectares. Foi no Cerrado que pesquisadores registraram o maior alerta de desmatamento de todo o Brasil: 6,6 mil hectares foram desmatados em uma única área, no município de Alto Parnaíba (MA). O município de Baixa Grande do Ribeiro (PI), por sua vez, teve o desmatamento mais veloz do Brasil, derrubando 944 hectares, o equivalente a 8 parques do Ibirapuera, em apenas 8 dias.
A agropecuária, através da abertura de áreas para pastagens e lavouras, foi o vetor de pressão de pelo menos 98% de toda a área desmatada no Cerrado. Além disso, as formações savânicas do bioma – caracterizadas por suas árvores tortuosas e grande presença de arbustos – sofreram 74% de todo o desmate.