A primeira reunião do ano da
Câmara Setorial do Trigo de São Paulo, promovida pelo Sindicato da Indústria do
Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo), foi realizada na quinta-feira (13),
na Cooperativa Capão Bonito, em Capão Bonito (SP). O evento híbrido abordou
desafios do setor, perspectivas para as safras 2024/2025 e 2025/2026, além do
mercado internacional do grão.
A perspectiva para a safra de
trigo 2025 em São Paulo é de manutenção da área cultivada, apesar de algumas
cooperativas indicarem redução devido à migração para outras culturas, como
sorgo e milho, em função dos custos de produção. No entanto, produtores seguem
investindo no cereal, impulsionados pela demanda das indústrias moageiras do
estado e pela rápida comercialização do grão.
“Existem várias opções de cultivo,
mas o trigo segue atrativo, pois há uma demanda constante e pouco estoque
disponível para os moinhos”, explicou o vice-presidente da Câmara Setorial do
Trigo, José Reinaldo Oliveira.
Ele pontuou que fatores
climáticos ainda trazem incertezas, mas há otimismo quanto à produtividade da
próxima safra. Se as condições forem favoráveis, com chuvas regulares e
temperaturas adequadas, São Paulo pode recuperar níveis de produção vistos em
anos anteriores.
“Se tivermos um clima neutro, a
produtividade pode ser elevada, garantindo boa rentabilidade ao produtor. Mesmo
com áreas sendo destinadas a outras culturas, o trigo segue competitivo dentro
desse mix, oferecendo segurança econômica ao agricultor”, avaliou Oliveira.
De forma remota, o presidente da
Câmara Setorial do Trigo, Nelson Montagna reforçou a necessidade de expandir a
produção estadual. “Existe mercado e demanda para o trigo paulista. Precisamos
focar na qualidade e acreditar no crescimento do setor, que terá anos melhores
e outros mais difíceis, mas a tendência é de avanço”, sintetizou.
Início e fim de guerra impactam
o mercado internacional do trigo
O analista de mercado de trigo
da Safras & Mercado, Élcio Bento, ao apresentar um panorama mercadológico
do setor, destacou que as movimentações globais impactam diretamente os preços
no Brasil.
“Somos passageiros do trem
argentino, que segue os trilhos das bolsas norte-americanas”, comparou. Sobre a
guerra comercial entre China e Estados Unidos, ele lembrou que, em 2018,
tarifas sobre o trigo americano reduziram drasticamente as exportações para o
mercado chinês, e uma nova taxação pode beneficiar a Argentina.
“Se os EUA enfrentarem
restrições, o trigo argentino pode ganhar espaço na China”, disse.
Bento também abordou os impactos
da guerra na Ucrânia, apontando a possibilidade de normalização do fluxo de
trigo pelo Mar Negro, o que pode pressionar os preços globais.
“No curto prazo, isso traria um
alívio ao mercado. Mas, para essa safra, o impacto deve ser limitado”, avaliou.
Ele destacou ainda a competitividade do trigo argentino frente ao produto
americano e a necessidade de importação para suprir a demanda paulista.
Pauta do dia incluiu
atualizações sobre o cenário paulista
A pesquisadora científica da
APTA e assessora de pesquisa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de
São Paulo, Raquel Nakazato Pinotti, representou o coordenador das Câmaras
Setoriais da SAA, José Carlos de Faria Cardoso Júnior. Ela destacou a
importância de uma proposta tributária realista para o trigo paulista.
“Precisamos conhecer as especificidades do trigo para construir uma política
tributária que não dependa de mandatos políticos. O apoio à produção deve ser
prioridade, garantindo que o produtor tenha condições de avançar”, afirmou. Ela
também reforçou a necessidade de maior apoio dos prefeitos à cadeia produtiva,
promovendo ações em conjunto com a SAA.