A safra de soja na Argentina está ameaçada pelas mudanças climáticas. No país vizinho, além do calor muito intenso, com temperaturas cima dos 40 graus, as lavouras não recebem chuvas há semanas e a tendência é que o mês de fevereiro também deve ser mais seco, efeito do fenômeno La Niña. No Brasil, a região Sul também enfrenta dificuldades com o clima.
A Argentina é um dos principais exportadores de soja processada e outros grãos, como o milho. A expectativa inicial no país vizinho era de uma produção de 56 milhões de toneladas de soja e 51 milhões de toneladas de milho. Agora, com a estiagem, os argentinos falam em 52 milhões de toneladas da oleaginosa e 48 milhões de toneladas do cereal.
Especialistas apontam que o fenômeno La Niña causa temor na Argentina, fazendo os preços subirem. Há dois anos, este mesmo fenômeno climatológico foi o responsável pela quebra de safra argentina, com perdas acima de 50%, na soja e no milho. Essa quebra, na época, foi compensada pela produção brasileira de soja, farelo e óleo, produtos importantes para o mercado argentino. Nesta safra, porém, além da ameaça do clima, a taxação dos produtos prometida por Donald Trump, dos Estados Unidos, também pode interferir na agricultura da Argentina.
Ronaldo Fernandes, analista da Royal Rural, explica que, para o Brasil, uma possível taxação norte-americana aos produtos chineses valorizaria a soja e o milho nacionais. Sem a taxação, o Brasil entra em uma concorrência direta com os Estados Unidos e a própria Argentina.
A colheita da soja na Argentina começa em meados de abril. O economista argentino Matías Contardi explica que até lá, o clima ainda pode mudar e o que mais preocupa são as taxações e políticas internacionais. “Neste momento, o mercado está muito atento ao que pode acontecer na relação entre o Trump e a China e se vai haver a famosa guerra comercial”, diz ele. “Isso pode desviar a atenção chinesa para o mercado sulamericano, o que pode ser bom para o mercado de grãos brasileiro e argentino".
A correspondente da Band na Argentina, Márcia Carmo, conta que a Bolsa de Comércio de Rosário, que é um órgão atuante na agricultura do país, informou que 55% das lavouras de soja do país estão com condições consideradas regulares ou péssimas. Há uma semana, este índice era de 22,5%.