Brasil e mundo

Morre Lô Borges, ícone da MPB e um dos criadores do Clube da Esquina

03 nov 2025 às 15:17

Lô Borges morreu aos 73 anos, ontem, após um período de internação em Belo Horizonte, Minas Gerais. O músico, um dos maiores compositores da música popular brasileira, foi um dos fundadores do movimento que ficou conhecido como Clube da Esquina.


O Hospital Unimed informa com pesar o falecimento do músico, cantor e compositor Lô Borges, aos 73 anos, na noite de ontem, 2 de novembro de 2025, às 20h50, em decorrência de falência múltipla de órgãos.


O artista havia sido internado no Hospital Unimed em Belo Horizonte no dia 17 de outubro, com um quadro de intoxicação por medicamentos. Ele chegou a passar por uma traqueostomia, em 25 de outubro, para manter a ventilação mecânica. O músico também passou por sessões de hemodiálise.

Raízes em Minas Gerais

Salomão Borges Filho nasceu em Belo Horizonte. Ele morou no bairro Santa Tereza até os 10 anos. Em 1963, devido a um problema na fundação da casa da família, eles se mudaram para o Edifício Levy, no centro da capital mineira.


Foi nesse período que Lô se aproximou do violão e começou escrever as primeiras composições. No Edifício Levy, ele conheceu vizinhos que se tornariam grandes parceiros e pilares do movimento que surgiria: Beto Guedes e Milton Nascimento (Bituca).


Entre os 12 e 15 anos, no auge da "Beatlemania", o artista integrou o conjunto "The Beavers" ao lado do irmão Yé, Beto Guedes e Márcio Aquino. O grupo tocava exclusivamente canções dos Beatles.

A esquina que deu nome à geração

Lô Borges é um dos fundadores do Clube da Esquina, na década de 1960. Foi ao retornar a Santa Tereza, ainda na adolescência, que ele compôs a música que deu nome ao movimento, em parceria com o irmão Márcio e Milton Nascimento.


"Militante da esquina", como ele próprio se chamava, o artista contou que o local era o ponto de encontro do quarteirão, frequentado pelos garotos da pelada que se reuniam na calçada à noite para tocar violão e beber.


"Estava descendo a escadaria para comprar pão e leite para o café da tarde. E comecei a ouvir um falsete vocal e uma voz e um violão muito bonito. A medida que fui descendo, quando chego ao quinto andado, saí do 17º, estava andado em câmera lenta, dei de cara com um carinha tocando violão: era o Bituca." - Lô, em entrevista ao Conversa com Bial.


O movimento de Belo Horizonte, que também incluiu artistas como Márcio e Telo Borges, Fernando Brant, Wagner Tiso e Flávio Venturini, é considerado um dos mais importantes da MPB. O Clube da Esquina sintetizou a Bossa Nova com influências do jazz, rock, música negra e música regional mineira, e suas canções abriram um novo horizonte à música brasileira.

Problemas com drogas

Em 2020, durante uma entrevista à agência RFI, Lô refletiu sobre a vida, mencionando um "passado de drogas" entre os 20 e 40 anos, envolvido com "coisas pesadas". Na ocasião, ele expressou satisfação por estar vivo, sentindo mais motivos ainda para essa gratidão.


"Não tenho mais tesão nem idade para usar drogas. Sou um senhor e muito chato para beber: só champanhe francês e cachaça de Salinas, mas casualmente." - Lô Borges, em entrevista ao Estado de Minas, em 2022.

O legado em discos

Por volta dos 17 anos, Lô Borges se mudou para o Rio de Janeiro com Beto Guedes, a convite de Milton Nascimento, para conceber e co-assinar o disco "Clube da Esquina", lançado em 1972. Álbum é um dos mais famosos do Brasil. Anos mais tarde, o movimento lançaria o "Clube da Esquina 2".


Músico escreveu sucessos que se popularizaram em todo o país, muitos deles na voz de Milton Nascimento. Entre as letras mais populares estão: "Para Lennon e McCartney", "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo" e o "O Trem Azul".


Artista lançou primeiro disco solo em 1972, intitulado simplesmente "Lô Borges". Ao longo de mais de 50 anos de carreira, o cantor contabilizou mais de 20 álbuns.