Experimentos com variedades híbridas de tomate conduzidos
pela Embrapa em Alagoas, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado (Fapeal), prefeituras e produtores rurais, vem alcançando altos índices
de produtividade. “Estamos colhendo as informações do plantio do tomate em
sistema de cultivo protegido com êxito. Com esses trabalhos já superamos 70
toneladas por hectare”, afirma Flávia Teixeira , supervisora de Transferência
de Tecnologia da Embrapa Hortaliças , que está atuando no estado, alocada na
Embrapa Alimentos e Territórios . A produtividade média estadual de tomate é de
cerca de 56 toneladas por hectare (t/ha).
O trabalho que testa duas telas de ráfia nas cores vermelha
e preta, com e sem cobertura de solo, apresenta diferenças entre os
tratamentos, como já era esperado. “Porém, o que também surpreende é a
eficiência produtiva do híbrido testado, que suportou elevados índices de
salinidade na água”, avalia. “Além de já ter expressado destacada qualidade de
fruto, tanto com relação ao sabor agradável quanto à aparência, os plantios vêm
obtendo produtividades competitivas comparados à produção em água doce”,
complementa.
Nas áreas de campo selecionadas, estão sendo testadas
técnicas de cultivo para amenizar o efeito do estresse causado pelo calor nas
hortaliças produzidas no sertão de Alagoas. Os experimentos são realizados com
apoio de técnicos de assistência técnica e extensão rural que atuam na região.
O objetivo é avaliar a produção e qualidade dos frutos nessas condições. “Os
testes continuam para a obtenção de resultados que podem tornar mais efetivo e
promissor o cultivo de tomates de alta qualidade. Desta maneira, esperamos ter
maior confiabilidade na apresentação dos resultados”, reforça a analista.
Um dos campos de produção de tomate BRS Sena foi instalado
no sítio Lajedo Baixo, em Delmiro Gouveia. Lá foram instalados quatro sistemas
de cultivo de tomate, sendo duas estruturas de cultivo protegido, com telas de
ráfia nas cores preta e vermelha, um cultivo com cobertura do solo pela técnica
de mulching , bastante utilizada pelos produtores, e outra a solo nu – a mais
adotada na região, pois é a que tem menor custo.
Conforto térmico
“As estruturas de cultivo protegido foram capazes de trazer
maior conforto térmico para as plantas e, consequentemente, aumentar a
produtividade, além de proporcionar a produção de frutos com maior qualidade
nas condições de elevada insolação e temperatura do sertão alagoano”, explica
Teixeira, responsável pela condução dos testes.
Outros campos foram instalados ao longo de 2024 em
propriedades às margens do Canal do Sertão, em Olho d’Água do Casado, e no
Agreste, em Arapiraca. As iniciativas buscaram, principalmente, avaliar a
viabilidade econômica para os pequenos produtores. “Até o momento, as vendas do
tomate estão sendo realizadas para programas governamentais e restaurantes de
Maceió que já reconhecem a diferença na maior qualidade do produto final e apoiam
o desenvolvimento da agricultura familiar no estado”, informa a especialista.
João Raimundo dos Santos, proprietário da Chácara Santa
Luzia, em Arapiraca, é produtor orgânico do tomate BRS Equatorial. “Nós estamos
aqui há 30 anos nessa luta do orgânico, e agora estamos com a parceria da
Embrapa e da Prefeitura de Arapiraca, que fornece um técnico pra sempre dar uma
olhada e nos ajudar”, explica. Ele olha o campo e diz que só tem a agradecer
pela beleza do cultivo. “Muito obrigada a essas instituições que nos ajudam a
sempre mostrar o que o Nordeste pode fazer de coisas boas. Nós temos um pouco
de conhecimento e com o conhecimento dos profissionais a gente enriquece cada
vez mais o nosso solo e a nossa produção”, comemora.
Diversidade na produção
Para o extensionista Anderson Soares, da Prefeitura de
Arapiraca, além de identificar produtores que pudessem desempenhar
adequadamente os tratos culturais, o apoio técnico trouxe uma inovação, o
tomate BRS Equatorial, mostrando aos agricultores que existem alternativas aos
produtos que já são cultivados na região. “Mas tem esse que é muito produtivo e
a gente já consegue identificar que ele é adaptado para o pequeno agricultor”,
conta. “O nosso maior papel, além de incentivar, é trazer esse tipo de tecnologia
como uma forma de novidade e também de diversificar, mostrar para o agricultor
que ele pode agregar valor à sua produção com um produto com maior qualidade e
com um menor custo para se produzir”, observa.
A agricultora Magda dos Santos, filha do seu João Raimundo,
aponta que são extremamente importantes esses trabalhos com os agricultores da
região e que já consegue perceber uma grande diferença entre os telados usados.
“Para nós que somos agricultores experimentadores e principalmente na área de
produção orgânica, o experimento da Embrapa é de grande valia, só veio a
enriquecer ainda mais o nosso trabalho, principalmente com as estruturas dos
telados e com material do tomate Equatorial”, avalia. “A gente observa que o
telado vermelho teve uma melhor resposta de produtividade, tanto em quantidade
de produção quanto no desenvolvimento da planta”, pontua.
Além de tomate, há experimentos com outras hortaliças, como
alface e melão. O fruticultor Cícero Roberio dos Santos, de Olho d’Água do
Casado, também teve produtividade recorde com o melão BRS Anton, colhido no
final de 2024, quando obteve 45 t/ha. Como manejo de condução, após a colheita
do tomate, ele aproveitou a área para a produção do melão, e contou da alegria
em obter cerca de cinco frutos por planta, tendo praticamente custo zero de
produção com essa última cultura.
“Caminhamos para o fechamento e análise final dos resultados
que irão compor uma publicação técnica demonstrando os tratos culturais e
divulgando possibilidades de novas práticas que levam ao sucesso da
horticultura alagoana. O experimento com o BRS Equatorial também é alvo de um
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Laiane da Silva, aluna de agronomia da
Ufal, que terá bons resultados para discutir e muito aprendizado para
incorporar em sua bagagem profissional. Adequação de técnicas de cultivo que
gerem maior eficiência produtiva para lidar com grandes adversidades climáticas
e regionais como elevadas temperaturas e salinidade da água trarão bons
resultados no caminho da profissionalização do setor”, completa Teixeira.
A iniciativa dos cultivos faz parte do projeto “Produção de
tomate pela agricultura familiar no Agreste através de práticas
conservacionistas para aumento de produtividade e qualidade de fruto”. Os
trabalhos são feitos em parceria com as secretarias de Agricultura dos
municípios de Arapiraca, Delmiro Gouveia e Olho d’Água do Casado, além da
Superintendência Federal de Agricultura de Alagoas, Senar AL, Universidade
Federal de Alagoas (Ufal), Federação da Agricultura e Pecuária no Estado de
Alagoas (Faeal), Emater AL e Sebrae AL. Financiado pela Fapeal, o projeto conta
também com apoio da empresa Agrocinco Sementes e da Cooperativa Terragreste.