O rei Charles 3º retirou todos os títulos e privilégios do irmão caçula Andrew, inclusive o de príncipe, após uma série de escândalos.
Andrew será chamado apenas de Andrew Mountbatten Windsor, e não príncipe Andrew. Charles está enviando mandados reais ao Lorde Chanceler para garantir a remoção dos títulos de duque de York, príncipe e o tratamento de "Alteza Real" de Andrew.
Andrew será removido da Ordem da Jarreteira e da Real Ordem Vitoriana. A Ordem da Jarreteira é a mais antiga e importante ordem militar britânica, enquanto a Real Ordem Vitoriana, estabelecida pela rainha Vitória em 1896, "reconhece serviços pessoais distintos prestados ao monarca e a membros da família real". As informações são do Daily Mail e da revista People.
O rei também despejou o irmão da residência real Royal Lodge. "Seu contrato de arrendamento do Royal Lodge, até o momento, lhe proporcionou proteção legal para continuar residindo lá. A notificação formal para a rescisão do contrato de arrendamento já foi entregue e ele se mudará para uma acomodação privada alternativa", diz a nota divulgada pelo Palácio de Buckingham.
"Essas censuras são consideradas necessárias, apesar de [Andrew] continuar negando as acusações contra ele. Suas Majestades desejam deixar claro que seus pensamentos e mais profundas condolências estiveram, e continuarão, com as vítimas e sobreviventes de todas as formas de abuso." - Palácio de Buckingham, em nota.
Andrew tinha um contrato privado de locação da residência Royal Lodge até 2078. Nos últimos meses, a imprensa britânica afirmou que ele foi muito pressionado por Charles a deixá-la, mas estava se recusando a abrir mão do contrato. Agora, ele será forçado a sair da casa e "deixará o imóvel assim que for possível", segundo a publicação.
Ele se mudará para um imóvel na propriedade real de Sandringham, segundo o jornal. Sarah Ferguson, ex-mulher de Andrew que renunciou ao título de duquesa de York e também morava em Royal Lodge, se mudará para outro lugar por conta própria.
O último membro da família real britânica a ser destituído de um título foi o príncipe Ernest August, em 1917. O rei George 6º retirou o título de príncipe e o tratamento de "Sua Alteza Real" de Ernest August, que também foi removido da Ordem da Jarreteira. A Primeira Guerra Mundial causou uma divisão na família real britânica, e Ernest August perdeu os títulos por jurar lealdade à Alemanha.
Andrew "renunciou" a títulos dias atrás
No dia 17 de outubro, Andrew anunciou que não usaria mais o título de duque de York e renunciou à Ordem da Jarreteira. "Com a concordância de Sua Majestade, sentimos que devo agora dar um passo adiante. Portanto, não usarei mais meu título nem as honras que me foram conferidas. Como já disse, nego veementemente as acusações contra mim.", disse, em nota divulgada pelo Palácio de Buckingham. As informações são do The Telegraph e da BBC.
Na ocasião, no entanto, a imprensa britânica afirmou que ele manteria o título de príncipe. Ele nasceu com esse título, já que é filho de uma monarca, a rainha Elizabeth 2ª.
A decisão veio após uma "enorme pressão" do rei Charles 3º, segundo o The Telegraph. Além do rei, o príncipe William, a princesa Anne e o príncipe Edward foram consultados antes da decisão. Mais cedo, a imprensa britânica noticiou que Charles 3º estava considerando retirar os títulos de Andrew, mas esperava que o irmão "agisse de forma honrosa" e abrisse mão dos títulos voluntariamente.
A situação era vista pelo Palácio como "insustentável" diante das acusações mais recentes. Funcionários esperam a divulgação de ainda mais revelações sobre a relação de Andrew com o criminoso sexual Jeffrey Epstein.
A ex-mulher do príncipe, Sarah Ferguson, também não usará mais o título de duquesa de York. As filhas do casal, porém, Beatrice e Eugenie, manterão seus títulos. Além disso, Andrew não participará do tradicional Natal da família real em Sandringham.
Príncipe Andrew já foi acusado de abuso sexual e de envolvimento com espiões
Andrew foi apresentado ao bilionário Jeffrey Epstein por Ghislaine Maxwell em 1999. Os três se tornaram amigos, e logo Andrew passou a convidar Epstein e Maxwell para eventos nas residências reais. Em 2008, Epstein foi preso nos EUA, acusado de abusar de uma menina de 14 anos, e registrado na lista federal de criminosos sexuais. Ele voltou a ser preso em 2019 por tráfico sexual.
Em 2010, o príncipe visitou Epstein e se hospedou em sua mansão em Nova York, mesmo após o bilionário ser preso por abuso sexual de uma menor. Após uma fotografia dos dois juntos ser exposta nos jornais, Andrew deixou seu cargo de emissário comercial. Mais tarde, ele disse que estava visitando Epstein para "terminar a amizade" pessoalmente.
Em 2015, surgiram as primeiras acusações de abuso sexual contra Andrew. Virginia Giuffre, vítima de Epstein, afirmou que foi abusada sexualmente por Andrew na casa de Ghislaine Maxwell em 2001, aos 17 anos. Ela disse que também foi abusada pelo príncipe também na casa de Epstein em Nova York e, depois, em uma orgia na ilha particular de Epstein no Caribe.
Em 2019, Andrew concedeu uma entrevista desastrosa negando as acusações. Poucos dias depois da transmissão da entrevista, diante da péssima repercussão, o príncipe deixou suas funções na realeza.
Em 2021, ele foi processado por Giuffre por abuso sexual. No ano seguinte, fez um acordo com Giuffre na Justiça, colocando fim no processo.
Em 2022, a rainha Elizabeth 2ª retirou seus títulos militares. Ele também deixou de ser patrono de mais de 200 organizações e projetos de caridade, além de abdicar do título de "Sua Alteza Real".
Neste ano, o livro "Entitled" trouxe novas revelações sobre o comportamento de Andrew. Além de histórias de exigências bizarras e grosserias, uma delas envolvendo uma visita ao Brasil, a obra trouxe revelações sobre a amizade com Epstein e detalhes de negociações questionáveis durante o período em que o príncipe era emissário comercial do Reino Unido.
Na semana passada, o Mail on Sunday revelou que Andrew mentiu sobre ter cortado contato com Epstein. Apesar de ter dito em uma entrevista desastrosa que não falava mais com Epstein desde 2010, Andrew enviou um e-mail amigável para o bilionário pedófilo em 2011, logo após a publicação de uma foto do príncipe com Virginia Giuffre, que o acusou de abuso sexual.
"Parece que estamos juntos nessa e teremos que superar isso. De qualquer modo, vamos manter contato e brincar mais em breve!" - Andrew, em e-mail enviado a Jeffrey Epstein
Para o Palácio, essa mentira representou um grande risco para a reputação da monarquia. Por isso, Andrew foi pressionado a abrir mão dos títulos para "preservar o legado de sua mãe" e evitar mais danos à instituição.
Andrew também está envolvido em pelo menos dois casos de suspeita de espionagem. No ano passado, foi revelado que Yang Tengbo, suposto espião chinês, foi orientado a "agir em nome do príncipe" em negociações com investidores chineses. Neste mês, o jornal Telegraph também revelou reuniões de Andrew com outro suposto espião chinês, Cai Qi, entre 2018 e 2019.
Em autobiografia póstuma, lançada neste mês, Virginia Giuffre faz várias acusações contra Andrew. Em trechos divulgados na imprensa britânica, Giuffre diz que Andrew acreditava que "fazer sexo com ela era seu direito de nascença".